quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eterna Mente

Um passeio em sonho... Ou um sonho em pleno dia, desperto porém imaginativo...? Não sei bem. Mas esta poesia, retirada de Leere, o sétimo livro, faz uma tentativa de propôr à Vida, esta mulher incansável, uma maneira de melhor funcionamento, uma humilde sugestão de como poderiam as coisas darem certo. São complicadas as complicações do corpo, fardo inimaginavelmente pesado para a alma, mas a mente pode e deve tornar-se eterna frente a tudo isso.


Fui ao Jardim da Morte e me encantei
Flores que não mudam, folhas que não caem
Gramados que duram, gentes que sempre atraem
Corri por dias nos prados e não cansei

Quis me sentir um rei, mas não me atrevi
Seria vital: audacioso e sem perdão
Então, humildemente, corri e mais corri
Feliz, pela ausência de um coração

Estava morto, e isso era uma dádiva
A vida dava certo, pois não era assim chamada
Foi então que ela veio até mim, muito ávida
E juntos fomos para uma caminhada

Colhi rosas negras pra ela, que sorriu
Nos deitamos, tranquilos, sobre a relva
Fomos nos banhar em um lindo rio
E acendemos uma fogueira na selva

E assim passamos a noite: bem aquecidos
E acordados, que dormir não era preciso
Dias passaram em que só admirei o seu sorriso
Vivi aquilo com todos os meus treze sentidos

Então chegou o momento de ela não ir embora
Soltei morras - e não vivas, pois não via a hora
Então nos abraçamos uma vez mais
E mais uma vez nos amamos em paz

Assim se vivia no Jardim da Morte
A vida era morta, e o fim não florecia
As flores eram pardas como a sorte
De quem na não-vida vida não via

No Jardim da morte muito feliz fui
Ria com o riso que da criança flui
Para lá hei de voltar, como de lá saí
Sem saber como, sem ser como aqui


Diorgi Giacomolli, 17 de Julho de 2009.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Dia Sem Fim

Seguindo a linha de raciocínio de "Procurando Ouro", que é não ter absolutamente linha alguma, mas representar o abandono em nossa vidas que algumas mudanças podem nos proporcionar, "Dia Sem Fim" foi também extraído de Penseira. Este poema retrata parte de meu momento atual, com a diferença que o "um ano" é agora apenas meio. Não sei se é bom ou se é ruim.


Minhas histórias lá ficaram
Dois anos e elas voltaram
Me dei conta, conta não me deram
Rodei em cima da cama
E vi as voltas que não eram

De poucas palavras eu não sei
Não preciso do que eu precisei
Não sei o que seria de mim
Sem essa minha melancolia
Estou no mesmo dia que não tem fim

Sei que o nada é um tudo insuportável
Não sei de nada, e isso é lamentável
Ouvi as palavras de quem disse que ama
Me pareceram as pragas de quem reclama

Está quente, e eu sei que é o mesmo que frio
Achei e extraviei o um de um mil
Eu quis assim, e não é exatamente o que eu queria
Agora mais um ano dentro desse interminável dia


Diorgi Giacomolli, 28 de Dezembro de 2008.