sábado, 28 de novembro de 2009

Que Nome Teria?

Tudo o que te atropela e te interpela, toda roda que te passa por cima, que te subestima, tudo e o tudo em si, estão todos ligados ao tempo, são dependentes desta entidade que tem tantos nomes. Então te vem essa vontade de se individualizar, de estar sempre em um apartheid estranhado e interligado com uma coisa qualquer, que não sabes sequer se tem nome algum. E aí temos a família, os anos a seguir, temos a vigília eterna de somente se ir, temos os desencontros diários com o calvário dos outros, e nada disso temos. Nada disso tem volta. Nada disso tememos. Você concorda?


Na esquizofrenia
Eu encontraria
Uma resposta
Uma distração
Talvez
Uma solução
Se loucura
Fosse
Bom
Seria

E a juventude
E a atitude
E o mundo
E a guerra
Uma resposta?
Duas ou três?
E a ironia?
À luz do dia
O sentido
O alarido
O amor
Passando
Sumindo
Entrando
Saindo
A loucura...
Solução?
Uma jura:
A quero então!

Medo da Morte?
A desejo
A almejo
A esqueço
Saio daqui
Algo me diz
Devo ir
E então passa
O amor
A desgraça
Tem cor
É vermelho
É o cabelo
É o espelho
E não me vejo...

E não a vejo!
Então me disse
Então não foi
Então não era
Pra ser
Para nascer
É o destino
É a vida
É o tempo
É a verdade
Entidades
Me mandando
Calamidades
Me afrontando
Me zombando
E sempre é tarde
Estão me vendo
E manipulando.


Diorgi Giacomolli, 25 de Março de 2009.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fazer Amor

Vejo mundos que me vislumbram quando me acho escondido. Quando não me acho, nada me vê, então também não me penso, ótimo, ao menos arrogância me falta nessa cara sem vergonha, vergonha nenhuma de vir aqui lhes mostrar estes poemas tão suspensos em cadafalsos. Mas este é o grande momento, minha gente, assistamos à execução! Por favor, aconcheguem-se em seus lugares, que a sessão está para começar! Algum voluntário tenho para chutar o banquinho no qual este poema se apóia? Sim, podem vir, não tenham medo do patíbulo, esta noite ele não quer mais ninguém, apenas Fazer Amor.


Pra quê fazer amor, se a moda agora é fazer guerra?

Pra quê culpar o amor, se não sabemos quem erra?

Pra quê fazer amor, se o amor já está feito?

Como fazer amor, se o amor está desfeito?

Pra quê fazer amor, se o amor nos fez?

O que fazer com o amor, depois do que ele fez?

O que dizer pro amor, quando fomos tão corruptos?

O que fazer com o amor, quando nos vem tão abrupto?

O que fazer com o amor, quando nos vem tão cedo?

O que esperar do amor, quando do amor temos medo?

Obedecer o amor, quando já controlamos nossos dedos?

Desfazer o amor, quando ele contou nossos segredos?

Como salvar o amor, quando ele já voou com as plumas?

Salvar o amor, se ele nos largou às brumas?

Fortalecer o amor, quando estamos tão fracos?

Pedir força ao amor, quando o amor está em cacos?


Diorgi Giacomolli, 08 de Agosto de 2008.

domingo, 8 de novembro de 2009

Arquipélago De Um Homem Que Não É Ilha

Se eu fosse falar alguma coisa sobre esse poema, certamente eu falaria nada, pois já comecei a frase com um "se eu fosse falar...", o que indica que nada falarei. Mas como é sempre bom contrariar os outros, e mais ainda a si mesmo, aí vai um poema destes que ninguém gosta de ler, e já me encontro falando sobre o poema. É extraído de Leere, uma das produções que mais gosto, só para contrariar a mim mesmo uma vez mais.


I.

O arquipélago de gentes estranhas é o deserto que eu inventei
Quem me dera usar destes motéis
Respirar o líquido crú dos humanos respeitáveis

E virar o rei do maquinário, sentir o frescor dos relampejos
E, quem sabe, sair por aí, de mãos dadas com alguma Elizabeth,
Pelos Woodstocks impossíveis da vida

Quando das vezes em que mais ainda chorarei sem lágrima,
Ou das que nadarei em rios delas sem chorar,
Hei de ficar muito satisfeito com tudo isso que a gente veio fazer

Se, à parte isso, fostes a parte que me toca,
Eu ainda veria tudo por um prisma nada poliedro
Como a mão que provoca,
Ou o não que desilude,
Ainda me tenho por partes e amiúde,
Mas nada me canta agora,
Ninguém com suaves canções para que eu possa sonhar


II.

Entre uma aula e nenhuma outra sobre alguma coisa,
Sinto-me um tanto vago,
A imaginar poesias que falem de mim,
Então escrevo sobre nada,
Amontoo os vocábulos, e eis que estou melhor descrito impossível

Em uma noite, se caminha para casa devagar,
Com medo de chegar, de se ter um teto sobre o próprio,
Como se os pensamentos fossem os ventos que escaparam de Odisseu

Mas o fato é que sou sempre o ridículo, teatral e perverso,
Depressivo e ininteligível,
Cruzem duas cobras e uma maçã da Índia, e terão um licor,
O manjar envenenado que vem direto de minhas veias

Dizendo nada com o muito que se fala é que represento o universo
(Veja quantos nadas agora trabalham por um tanto que se respira)

E ao representar o universo, de terno, em um destes congressos de medicina,
Me vejo de jaleco,
E é aí que enxergo o quanto somos humanos e vis
E imbecis, tentando ser Aristóteles,
Nos tornando pouco mais que morcegos.

Trágicos molambos na comédia do dia-a-noite
Me provo tão insosso quanto o pão para os ricos
E tão salgado quanto o mar para os olhos
E que venha mais uma destas manhãs
Onde serei um sol girando ao redor do planeta


Diorgi Giacomolli, 25 e 26 de Agosto de 2009.