domingo, 30 de maio de 2010

Bode Espirratório

Refletindo sobre essa gripe na qual não creio muito, cheguei à conclusão de que, na verdade, não refletia sobre a gripe, mas sobre a cadeira onde me sento. Mas não era esse o uso que eu ia aplicar à conjunção "sobre". Nem era de cadeiras que ia falar. Hmmm.. Deixe-me ver... Ah, sim!! A reflexão. Pois bem, estava eu aqui a refletir, não no espelho, e sim sobre o tumulto que consegue a mídia causar com as suas insistentes e diárias manchetes sobre um mesmo assunto. Não divaguemos sobre as razões dos humaninhos em fazê-lo, pois não existem razões, mas UMA razão, o dinheiro, então vamos direto ao tonto, digo, ao ponto: o poema que segue é sobre alguma coisa que vocês, se aqui no blog agora estiverem, estão prestes a ler.


ou seria porco?
ou seria pouco
dizer que estamos todos loucos?

recém era ontem,
agora já é hoje
não sei como as pessoas lêem tanto
e não esquecem
não sei como os repórteres não enlouquecem

recém era ontem
eu lia o jornal
agora já é hoje
eu estou aqui tentando entender
as coisas do mundo real

vou pro quarto, me encerro
e, de tanto que viajo em minha mente,
quase me desterro
como posso ter tanto na cabeça
e não entender o que é "testa-de-ferro"?

falaram que o porco ficou doente,
e que ele espirra e pega na gente...
será que já estou no sanatório?
não, não pode...
e, por mais que eu rode,
não entendo o que é "bode expiatório"!

me diz, como que alguém como eu,
nesse mundo plebeu,
se arranja?
me chamaram de "laranja",
e eu fui pra casa, em assobio,
mas estava enganado,
descobri que estava sendo usado,
mas não entendi o uso da palavra,
me pareceu ilógico,
ora, sou mesmo um retórico
casulo sem larva...

então o bode começa a espirrar,
ué, mas não é o porco mais?
ah, deixa, tanto faz,
o negócio é não esquentar
o que é um resfriado
no país tropical, do carnaval e do feriado?

o que é sanidade no país do senado?
o que é decepção
nesse mundo indecente e ladrão?
o que é o meu mundo, senão um vulto
nesse planeta tão perfeito e adulto,
senão um rato em rota de colisão?
e de quê me vale ser irônico,
se sou lento para esse mundo supersônico...
vou sentar e esperar o verão.


Diorgi Giacomolli, 10 de Julho de 2009.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Vida Feita de Papel

pega um isqueiro
e acende ligeiro
na minha vida de papel

ou então amassa
essa minha vida escassa
e atire-a contra o céu

pois que sou um rascunho
e já não tenho punho
pra rabiscar nesse livro

vivo a imaginar, a escrever
a pincelar e enlouquecer
e nem sequer me sinto vivo

e, ao contrário do seu Déscartes,
vou pensar logo em você,
ou seja: eu não desisto

mas é que já estou pra morrer,
pois que estar sempre a viver
é demais pra mim, que não existo

vamos, pega essas velas
e põe fogo nas amarelas
páginas da minha vida

ou arranca da prateleira
e atira na fogueira
esse livro de capa encardida

que é a minha vida, úmida,
russa, rubra, rústica,
barata e impagável

ou esconde na tua túnica,
essa minha vida, a única:
cara e descartável.


Diorgi Giacomolli, 25 de Junho de 2009.