sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Etcéteras Reveberantes

Bem. Há algum tempo parei de tirar fotos, há algum tempo não faço mais vídeos. As memórias que se vão criando à velocidade da luz me levaram a um ponto onde me encontro e de onde vejo que não há mais beijo que eu queira ou algo mais vivo do que a morte ligeira. Quer-se aquilo que se tinha com aquelas pessoas, mas não se quer aquelas pessoas, e só com elas se poderia, porém chega mais uma tarde de lua vazia, tudo é ex, e a mente se esvazia. Eles não vão te ajudar a trazer qualquer coisa de volta, e você nem mesmo quer qualquer volta. Então há o ódio que sentem por ti, esse ódio que não sentes de volta e não entende como lhe têm. Há algum tempo não olhava filmes nem lia livros, agora voltei. Mas não, os livros são outros, os filmes são novos, não há volta. Não há... Volta...


vago mundos por mundos vagos e insípidos,
como a nau sobre vagas de sonhos,
fico a me despir de toda lei inabdicável,
e tenho um muxoxo para cada centímetro
de vida terceira e desperdiçada...

as coisas todas me sobram, e à imagem da solidão,
vinda de um ombro escorado na poltrona ao lado,
tenho arrepios que dóem em meu vizinho...
Precisa-se obstaculizar imaginações,
ver-se na outra parte, dividir-se,
então tem-se toda a circunstância em mãos.

eu, que venho de largo, não sei de eu,
apenas esbanjo causticantes melodias
em forma de poesia egoísta e escorregadia,
sou o mau humor do sol por ser estrela...
esbarro nas praias sem pedir desculpas,
sinto o gélido toque das águas,
mas sou mais cadáver do que as marés,
morrendo justamente por estar morto,
e vivo é que sinto todas estas lamúrias...

para trás, satã! agora tudo fica pior,
melhor eu ir na frente, proteja-se como puder...
deus, me diga, sem que mentira se faça,
o destino diz pra eu lutar contra os fatos,
mas o que há além dessa praça?


Diorgi Giacomolli, 20 de Agosto de 2009.
fui esta tarde com tchaicovsky até um lugar mudo
onde ninguém se fingia de surdo,
uma vez que não tinha ninguém,
duas vezes fui lá por não ter alguém, e outra vez,
por estar vazio de qualquer pessoa do teu jaez

fui com tchaicovsky pela estrada,
de violino a tiracolo,
sem ninguém pesando em meu colo,
fui até aquele lugar sem palavras,
que estas cada vez me recuso mais a usar
em qualquer outro lugar,
que não seja no papel,

pois que nada mais presta na boca
a não ser o seu céu.

fui de mãos vazias ate lá com tchaikovsky,
pois quem levava o violoncelo era ele,
eu era o poeta que voltava,
vindo del cielo pela terra em serenata,
fazia sol, fazia um pouco mais que nada
do que uma solidão quase arrastada...

por isso fui de mãos dadas com tchaikovsky,
pois ele não falava,
e as palavras não eram usadas,
elas apenas me usavam para
nada que possa entender alguém de tua versão,
fui longe esta tarde, para um longinquo e calado verão...

vocês nunca verão...

com suas bocas mordidas,
suas apreciações por telas escondidas,
vocês não hão de ver
o lugar que esta tarde fui encher
de sons mudos, mudos de palavras absurdas...
e eu vi esta tarde com tchaikovsky...

vocês ficaram aqui com seus ternos,
eu fui com ele de chinelo e bermuda


Diorgi Giacomolli, Novembro de 2011.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vou atrás de muitos começos,
estes pontos cheios de magia,
pelos quais pago santos preços,
mas que valem todas as luxúrias do dia...

Persigo inícios como os fenícios queriam o mar,
como o ar quer a gravidade.

A gravidade disso tudo há de se agravar
ainda mais quando eu notar
que ainda estás aqui gravada...

Contudo,
saímos da sala e deixamos a tv ligada,
em um ato de ir ao banheiro e não mais voltar,
fizemos isso pela imundície da já insaciável ânsia de mijar,
e agora, aqui, mijados e sem bexiga que reste,
sentimos a infecção urinária se espalhando,
e voltamos à sala para nos contorcermos no sofá.

A dor passa,
a gente se abraça,
desliga a tv...

Só eu e você,
o silêncio que tem que ser,
sem importar o amanhecer...


Diorgi Giacomolli, Novembro de 2011.

domingo, 23 de outubro de 2011

Eu havia prometido ao Krüger um poema que envolvesse o xadrez, e não me vinha a inspiração mas de jeeeeito nenhum. Iniciei um soneto, mas a rima era muito malvada, atrapalhou criação. Tenho até hoje o rascunho daquilo que seria um poema erudito no conteúdo e na forma... Mas não passou de um rascunho. Estes dias então, me deitei pra dormir, com o celular na mão, que é onde mantenho um bloco de notas para poesia, e estava a fim de falar sobre o que anda acontecendo comigo, especialmente agora que fiz uma mudança pra lá de braba na minha vida, mas também pra lá de melhor, e eis: enxerguei o tabuleiro à minha volta, as peças começaram a se mover, a batalha se deu verídica, e eu vi que...



Ando pulando feito um cavalo nesse xadrez de vida.

Com a impressão que salto por cima dos outros a cada movimento meu,
nunca estou na frente, nunca alcanço promoção.

E nem que eu fosse o peão.

Chego lá no final e não sou coroado,
e alguém do meu lado diz que não era o final,
e eu, o peão,
não tenho mais como seguir em frente, nem como voltar...

Nessa hora nem um cavalo,
como o que eu também sou,
pode me ajudar...

Vou ao chão, a pedir perdão,
como um rei derrubado,
e esse tabuleiro de mundo me vem sempre com um maldito bispo
pra quem eu tenho que me humilhar,
eu,
que bispo incontáveis vezes sou eu próprio,
me atravessando em diagonal enquanto todos andam certo.

Às vezes eu queria ser rei apenas para rocar
e dormir,
deixar um pouco de existir,
protegido atrás da torre,
esta que tantas vezes eu sou também,
andando reto enquanto todos parecem ser bispo.

Mas de que me adianta ser rei?

Se ao meu lado terei a rainha,
esta que sempre vai mais longe do que todos,
e quando não se perde não volta...

Ser rei significa ser o único que pode sofrer o xeque-mate.


Diorgi Giacomolli, Outubro de 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quando disseram, "Não precisa pensar que o mundo conspira contra", eu pensei:


"Eu sei.

Mas ele conspira contra. Ele contra-conspira, te inspira pra baixo, e tu te desencontra.

Ele te encontra na hora feliz e distraída,
vem contra na pior hora.
Ele conspira contra, respira contra, expira contra.
Ele te pira.

Eu,
fico contrariado.

Deus pode até não existir,
mas o Diabo me ama."


Diorgi Giacomolli, Outubro de 2011.

Tenho postado poemas no site de relacionamentos Facebook, pois, ao que parece, ultimamente surgiu uma vontade maior de ser lido. O blog é legal, mas é mais recluso, e um site como o Face é mais dinâmico, as pessoas lêem você quase que instantaneamente, e aí vai um poema "feliz", destes que dificilmente faço, e que postei lá antes.


Prenda linda dos negros cabelos
Ousadia seria querer tê-los
Porém, quero, e quero negar
Que quero teus cabelos e teu olhar

Linda morena na noite escura
Pintura de face, corpo em escultura
Desejo esse que me tortura tanto
Fico tonto de olhar todo esse encanto

Venha comigo até a noite infinita
E negra como a lua bonita
Venha, e além eu hei de te levar
Lé terei teus cabelos e teu olhar

O desejo cresce como a luz do dia
Que cresceria até o sol já sabia
Quero agora o que é inegável:
Teu rosto tão lindo e teu corpo incomparável


Diorgi Giacomolli, Outubro de 2011.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Todos que vivem ainda
Essa vida tão linda
Sentem o mesmo perfume
Da cidade tão grande
E colorido se expande
O humano estrume

Todo mundo aqui sente
Que a terra deprimente
Não deve ser sentida
E pr'as avenidas eles vão
Todos eles, em vão
Continuando a linda vida

Lotam os supermercados
Super amargurados
E disso não se fala
Compra-se a gasolina
Toma-se a anfetamina
Mas o remédio é a bala

Todo mundo e ninguém
Carro, ônibus, trem
Tijolo à prazo e à vista
Dançando a porca dança
Nesse chiqueiro de criança
Que parece a única pista

Toda essa multidão
Caminha sem tesão
No chão da cidade magra
É com ódio que se encaram
Não se atraem, não se falam
E pra isso não há viagra

Toda a gente quer comer
E solução pra esquecer
O perfume dessa vida
Toda a gente tem sede
E se esconde na parede
Da falta de comida

E bebida também falta
A taxa é muito alta
E a embriaguez é passageira
Todos querem, de coração,
Apesar de fingir que não,
A vassoura dessa sujeira


Diorgi Giacomolli, Agosto de 2011.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Estou de volta ao blog com um poema que fala da minha volta simbólica a um lugar de difícil definição, tal qual a internet, mas não é o caso. Um grande amigo meu, também poeta, que não tenho certeza se também não viveu o Romantismo, embora agora inundado de romance, disse-me, em um poema seu, que eu havia ido embora. Sem saber de onde, redigi-lhe uma réplica. Extraído de As Lost Pages de God-Knows-Quando, segue abaixo o pequeno discurso, que, com o perdão da palavra e a proteção da poesia em pessoa, apresenta-se da seguinte maneira:


Yeah, eu tô de volta, my friend-o
ou, como gostávamos de dizer,
I'm back, ese!
Mas esse
não é o fato que eu tô vendo.

Parece que não,
mas eu noto
e você não vê que eu vejo,
ou,
você não vê o que eu julgo ver,
pois na verdade é você quem está vendo,
supondo que não vejo nada,
e assim a gente se entende,
não é mesmo?

Afinal, tudo depende
e vai excessivamente a esmo.

Te exemplifico:
nossas rimas baratas, que não evoluíram
nossas dúvidas logarítmicas, que involuíram,
e nossas aventuras de louca amizade, que ruíram,
estão todas no mesmo saco de Zeus,
naquele pelo qual pendurados vamos,
você e eu, esperma divino, ainda,
pouco espertos, muito meninos...
- Veja, é a musa! - Seja bem-vinda.

E amplifico:
agora ataques mútuos,
antes sonhos de gira-mundo,
tudo muito muito muito
legal, na imaginação,
legalmente imaginável,
executável, se, não sei quando.

Inimaginável e ilegalmente poderíamos ir,
mas andamos por aqui, à mercê da bem-vinda musa,
que também é necessária, mas a usamos como desculpa por não partir,
e depois, quando tudo estiver escancarado, ela terá sido a obtusa.

A tua falta de empatia, e a minha de impaciência,
ambas se confundem,
parece falta,
parece que fazem falta,
parecemos com elas, faltosos.

E retifico: sem mãe nem pai,
e ao mesmo tempo de barriga cheia,
somos o fruto que cai e nunca incendeia.
Sobretudo, orgulhosos.

Sim, eu voltei,
pra onde nunca deixei,
eu nunca encontrara resposta alguma,
estava era inventando novas perguntas,
e agora que estou de volta,
olha aí a revolta delas todas juntas!

Yeah, ese,
esse é o mundão de nossas dúvidas,
o mutirão de nossas feridas,
em rebelião contra um bom verão
em uma vida fétida de uma morte pútrida...

No fim, tudo terá sido inverno,
todos teremos sido John...
E, quem sabe, eu estarei lá pra te dizer,
"não, isso ainda não é o inferno,
te levanta, cabron!"


Diorgi Giacomolli, Fevereiro de 2011. *