Este poema é uma velharia, tanto no sentido de que faz parte dos mais antigos de meus escritos, quanto no de que trata de um assunto saudosista ao extremo. Feita pouco mais de um ano após eu ter me iniciado no mundo da poesia, esta obra faz parte de Nouz Ru Nouz, o primeiro livro de poemas que de mim nasceu. E por falar em primeiro, este foi o primeiro - e também o único, até o dia de hoje - poema que escrevi sobre o meu sentimento gaúcho. E considero que terá sido também o último, pois tudo o que sinto com relação ao meu Estado - que é meu país - está contido nestes versos, mesmo que eu não seja mais um saudosista: meu atavismo farrapo grita forte dentro de minhas veias diariamente.
Talvez não tivesse porquê procurar,
Pois aqui dentro elas residem;
Mas me parece que o cavalo ainda troteia,
Só o guerreiro é que não monta mais:
Ele anda sem espadas, sem botas, não sei como sobrevive,
Ele tem vergonha de sua gente, não sei como isso existe...
Cheguei na estrada, mas vi que ela era de pedra:
Parece que alguém a fez, e não foi a Mãe Maior,
Parece que as novidades desvalorizaram nosso suor...
Se o homem da nossa terra precisa fazer coisas fortes,
Que vá lutar, que vá ganhar com o braço a própria sorte!
Peguei, pois, a estrada, pra ver se me levava a algum destino,
E percebi, num barulho de máquina repentino,
Que até o cavalo já não corre;
Vi uma lágrima cair na terra confusa
Por uma cultura que morre,
E enxerguei no campo o gado escapar
Pelo meio da cerca, vi o pago chorar,
Pelo meio do caminho, me vi sozinho a desabar...
Então passaram heróis em cavalaria,
E uma minoria salvou o lubuno dia...
Um facho de esperança me rebenqueou peito adentro,
E vi até gurizotes galopando ao vento!
Ao chegar na minha velha querência,
Meu olhar vago encontrou abrigo:
Dei aquele grito largo, e vinte mil gaúchos gritaram comigo!
Diorgi Giacomolli, 20 de Setembro de 2007.