domingo, 8 de novembro de 2009

Arquipélago De Um Homem Que Não É Ilha

Se eu fosse falar alguma coisa sobre esse poema, certamente eu falaria nada, pois já comecei a frase com um "se eu fosse falar...", o que indica que nada falarei. Mas como é sempre bom contrariar os outros, e mais ainda a si mesmo, aí vai um poema destes que ninguém gosta de ler, e já me encontro falando sobre o poema. É extraído de Leere, uma das produções que mais gosto, só para contrariar a mim mesmo uma vez mais.


I.

O arquipélago de gentes estranhas é o deserto que eu inventei
Quem me dera usar destes motéis
Respirar o líquido crú dos humanos respeitáveis

E virar o rei do maquinário, sentir o frescor dos relampejos
E, quem sabe, sair por aí, de mãos dadas com alguma Elizabeth,
Pelos Woodstocks impossíveis da vida

Quando das vezes em que mais ainda chorarei sem lágrima,
Ou das que nadarei em rios delas sem chorar,
Hei de ficar muito satisfeito com tudo isso que a gente veio fazer

Se, à parte isso, fostes a parte que me toca,
Eu ainda veria tudo por um prisma nada poliedro
Como a mão que provoca,
Ou o não que desilude,
Ainda me tenho por partes e amiúde,
Mas nada me canta agora,
Ninguém com suaves canções para que eu possa sonhar


II.

Entre uma aula e nenhuma outra sobre alguma coisa,
Sinto-me um tanto vago,
A imaginar poesias que falem de mim,
Então escrevo sobre nada,
Amontoo os vocábulos, e eis que estou melhor descrito impossível

Em uma noite, se caminha para casa devagar,
Com medo de chegar, de se ter um teto sobre o próprio,
Como se os pensamentos fossem os ventos que escaparam de Odisseu

Mas o fato é que sou sempre o ridículo, teatral e perverso,
Depressivo e ininteligível,
Cruzem duas cobras e uma maçã da Índia, e terão um licor,
O manjar envenenado que vem direto de minhas veias

Dizendo nada com o muito que se fala é que represento o universo
(Veja quantos nadas agora trabalham por um tanto que se respira)

E ao representar o universo, de terno, em um destes congressos de medicina,
Me vejo de jaleco,
E é aí que enxergo o quanto somos humanos e vis
E imbecis, tentando ser Aristóteles,
Nos tornando pouco mais que morcegos.

Trágicos molambos na comédia do dia-a-noite
Me provo tão insosso quanto o pão para os ricos
E tão salgado quanto o mar para os olhos
E que venha mais uma destas manhãs
Onde serei um sol girando ao redor do planeta


Diorgi Giacomolli, 25 e 26 de Agosto de 2009.

3 comentários:

  1. Le grand Poète Diable... c'est le poème qui reflète mieux que vous avec toute votre production!
    big kiss, toujours la Simone ami!

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  2. Lendo tão admirável escrita, forço-me a perguntar-lhe: quem está só? A ilha na vastidão oceânica ou o oceano que lambe as praias e toma algumas vidas para não estar só ?
    Sim, este homem da tua poesia não é uma ilha, aparentemente, porém vivendo este caos de dúvidas e discordâncias em busca de respostas
    ele parece estar cercado por um turbilhão de águas e tal como uma ilha existe o vazio que o cerca.

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  3. D.G. Diable, quando, hoje, tu dissestes para eu ler o teu poema, a tua fala se eu não me engano foi mais ou menos assim: Que esse poema não era muito bom.... Porém te digo que eu o achei muito lindo e fala muito sobre ti, tu colocastes as tuas dúvidas, os teus anseios, a tua sensibilidade e por aí vai. Penso que um ótimo poeta sempre coloca um pouco de si em seus poemas, se assim não o fizer, não será poema para mim.
    Adorei e gostei de saber que tu és uma pessoa sensível, pois o sou também.

    bjks no coração dessa tua nova amiga,
    Eliane Koch

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