domingo, 4 de outubro de 2009

Linda

O Poeta Morreu é realmente a produção que mais me agrada. Penso que foi neste livro que consegui dizer tudo o que sentia antes, durante e depois de minhas terríveis diásporas, que foram terríveis na época, agora são tão importantes quanto o que fiz ontem: nem sequer me lembro, nem sequer volta. Quando escrevia tal livro, tinha na cabeça a seguinte ideia: não mais farei poemas. Hoje vejo que a ideia de morte ao poeta que fui/era/sou (?) não era alusiva ao fim da poesia, nem um pouco, mas sim ao fim da musa. Ao esgotar-se a fonte da inspiração, o bardo agoniza por algum tempo mais, e finalmente tem o seu termo. É por isso que O Poeta Morreu foi a ante-penúltima de minhas obras, e não a última, mas bem que poderia ter sido.


Aconteceu tudo que tinha, linda,
Aconteceu e foi...
Todos os sobrados da rua desabaram,
Os prédios mais altos sumiram...
Tudo o que eu encontrei, na verdade,
Não havia sido encontrado.

Cá distante, nessa existência cansada,
Linda, assisti
Aos maiores titãs entrarem em desacordo.
Quisera eu, uma vez, tomar parte,
Pequena,
Mas há certas coisas que não são certas,
E outras são coisas outras,
Certamente erradas.

Quiséramos nós, amada,
Lutar contra os tempos,
E talvez até, nos temporais, tenhamos tentado
Ou talvez tenhamos só querido,
Meu bem, e assim
Não é o jeito certo, algo me diz,
De ser lutado, não é assim
Que deveríamos ter encarado.

Mas dizer o que é devido ou não,
Princesa, é muito vago...
Creio que devamos apenas nos contentar
Com o amor que temos, ou tivemos,
Ou tememos...
Certa é a longa sombra
De nossa árvore sonolenta,
Mas sabemos bem das árvores:
Nos protegem do sol, mas nas chuvas
Sempre saímos molhados...


Diorgi Giacomolli, 18 de Março de 2009.

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